quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Concorrência do Uber 'fecha' principal escola de taxistas de Londres


Popularidade do app ameaça tradicional sistema educacional de motoristas da cidade, 

que exige memorização de ruas e virou tema de estudo científico.



Aluguéis em Islington, um dos bairros mais afluentes do norte de Londres, dispararam na última década, incluindo os de imóveis comerciais. Mas ao anunciar o fechamento de sua escola para taxistas – a Knowledge Point, que há quase 30 anos funciona em um endereço na Caledonian Road – Malcolm Linksey não hesita em apontar quem considera o principal "vilão": o Uber.
A popularização de serviços de táxi paralelos que permitem o uso de navegação eletrônica na teoria torna o The Knowledge menos atraente para quem busca trabalhar "na praça". Algo refletido pelas mais recentes estatísticas sobre novos pedidos de licenças para dirigir os "black cabs": em maio, um relatório da TFL mostrava queda de 20% na emissão de certificados.
Assim como em outras grandes cidades do mundo, o aplicativo é tido pelos taxistas como seu inimigo número um. Em Londres, autoridades de transporte, com o apoio do sindicato dos taxistas (LTDA), entraram com uma liminar na Alta Corte na tentativa de proibir o uso do Uber, sob o argumento de que oferecia competição injusta para os táxis licenciados.
O tribunal deu ganho de causa para o Uber, que opera em Londres desde 2012 e, segundo estatísticas da Secretaria Municipal de Transportes (TFL), contribuiu para um aumento de quase 25% do número de carros que oferecem serviço de táxi circulando pelas ruas da capital.
Isso por si só já seria má notícia para os taxistas de Londres que operam os tradicionais táxis pretos – os únicos autorizados a apanhar passageiros em qualquer área da cidade – mas o impacto também é sentido também por quem prepara esses motoristas: para conduzir os "black cabs", candidatos precisam passar por um rigoroso teste que mistura memória e raciocínio, conhecido como The Knowldege (O Conhecimento, em tradução livre). Sem usar o GPS.
Mais especificamente, eles precisam memorizar 25 mil ruas, 20 mil pontos de interesse e uma infinidade de rotas, em exames teóricos e práticos. O teste é tão difícil que exige, em média, quatro anos de estudos, tempo que escolas como a Knowledge Point tentam diminuir.
Sete em cada 10 candidatos não completam o programa. Um estudo científico em 2011 mostrou que o esforço para passar no teste provocou alterações nos cérebros dos taxistas, em que a região do hipocampo, responsável pela memória, estava mais desenvolvida.
Menos estudantes
"Eu costumava ter 350 estudantes todos anos, mas no ano passado foram apenas 200. Negócios como o meu estão simplesmente sendo varridos", diz Linksey, explicando ao jornal "Financial Times" por que decidiu fechar as portas de sua escola para taxistas (a principal da cidade) até o final do ano.
Isso apesar de os ganhos médios anuais de um motorista de táxi tradicional em Londres passarem de R$ 300 mil por ano.
"Os taxistas licenciados estão sofrendo a maior queda de contingente que já vi nos 30 anos em que tenho dirigido, enquanto o Uber ganha centenas de novos motoristas a cada semana", afirma à BBC Steve McNamara, presidente da LTDA, que no final de setembro paralisou o trânsito no centro de Londres com uma carreata do qual participaram 1,5 mil táxis pretos.
Atualmente, há cerca de 25 mil "black cabs" nas ruas de Londres e 15 mil carros registrados no Uber, segundo estimativas da mídia britânica. Nesse ritmo, o número dos motoristas "insurgentes" pode em breve ultrapassar o de oficiais, um fenômeno que já ocorreu em Nova York. Até porque, apesar da fama conquistada ao redor do mundo como um símbolo da Cool Britannia, os tradicionais táxis são mais caros e também constam como um dos serviços mais criticados pelo público.
Tanto que mais de 130 mil pessoas assinaram uma petição online em favor do Uber quando a TFL e a LTDA foram à justiça para argumentar que o sistema de cálculo de corridas do aplicativo funcionava como um taxímetro – por lei, apenas os "black cabs" podem funcionar com ele, ao passo que serviços paralelos precisam operar com corrida de preço pré-estabelecido.
Outra ameaça para os taxistas é a decisão do prefeito de Londres, Boris Johnson, de tentar impor a todos os motoristas de black cabs a compra de veículos menos poluentes por conta de novas políticas de redução da poluição no centro da cidade a partir de 2018.
O Uber argumenta que não tem como missão causar danos aos serviços tradicionais.
"Uma prova disso é que nossas operações estão abertas para motoristas de black cabs, algo que pode ser interessante para as viaturas que estiverem no fim de uma fila de ponto, por exemplo", diz um porta-voz da empresa. "Além disso, os black cabs continuam tendo privilégios como parar na rua e usar as faixas de ônibus para trafegar nas ruas de Londres."

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