terça-feira, 4 de julho de 2017

Carros voadores estão melhores, mas ainda lutam contra a ciência e a lei

Talvez nunca seja possível sair voando com seu carro para escapar do congestionamento. Mas isso não significa que as empresas tenham parado de tentar chegar perto disso.

Na corrida pelo primeiro "carro voador", estão Airbus, Toyota, a brasileira Embraer e startups nos Estados Unidos e na Europa. A ideia é oferecer veículos para transporte urbano aéreo, com decolagem vertical, em até cinco anos.
Pop.Up Airbus, carro autônomo que pode ser desmontado
e virar um helicóptero elétrico. (Divulgação)
Em abril, a Uber lançou uma divisão, a Elevate, para coordenar um serviço de táxi voador quando as aeronaves estiverem prontas.
"O trânsito é muito incômodo nas metrópoles. Começamos a estudar como trazer as aeronaves para ajudar na mobilidade urbana", diz Antônio Campello, diretor de inovação da Embraer, uma das empresas que vai desenvolver veículos para a Uber. A ideia é ter um protótipo até 2020.
O time da Embraer é pé no chão. "Chamam de carro voador, mas é uma aeronave. Não é prático fazer um avião com rodas, chassi, engrenagens de carro. Até dá, mas gasta muito combustível", afirma Campello.
Além disso, não é provável que as autoridades permitam que cada um pilote seu próprio carro-avião pela cidade, como nos filmes. "A regulamentação da indústria aeronáutica é bem restritiva e conservadora nesse sentido, e nós mesmos não faríamos uma nave que voasse sem confiabilidade", afirma Sandro Valeri, também engenheiro da Embraer.
Mas não há porque descartar o ideal "Blade Runner". O Pop.Up, da Airbus, tem partes desmontáveis — um chassi com as rodas, uma cápsula de passageiros e um conjunto de hélices acoplado no teto. Intercala o uso terrestre com o aéreo, ambos sem motorista.
A Airbus pertence a um grupo de empresas que defende uma mudança na regulação internacional para permitir naves sem motorista, controladas à distância. É também o objetivo da Embraer e da Uber no Brasil. Atualmente, não existe certificação para um veículo assim.
"A tendência é favorável, tanto nos desafios regulatórios quanto técnicos", afirma Zach Lovering, executivo da Airbus responsável por outro projeto de "táxi voador", o Vahana. "Meu time está trabalhando com afinco para ter um protótipo em tamanho real voando antes do fim de 2017, e uma demonstração de produto em 2020."
BATERIA FRACA
As limitações técnicas não são poucas. Para operar em grande escala, em meio ao trânsito comum, é necessário um motor silencioso e seguro. O ideal é que seja um veículo elétrico, mas a eficiência das baterias ainda não sustenta o voo por muito tempo.
A chinesa eHang e a alemã Volocopter aperfeiçoaram a tecnologia de drones e criaram veículos elétricos, potencialmente autônomos, que já foram testados no ar. Ambos têm limitações de alcance. O eHang voa sozinho por até 23 minutos, e o Volocopter, 20, e o tempo para carregar é quase o dobro.
Os protótipos serão testados em Dallas, nos Estados Unidos, e Dubai, nos Emirados Árabes, ainda neste ano. Mas a autonomia de bateria permite percorrer apenas metade de Dubai. Em São Paulo, seria o suficiente para levar alguém do aeroporto de Guarulhos até a avenida Paulista.
O problema é que, quanto maior a bateria, maior o peso e a perda de eficiência. Há, ainda, quem questione se as baterias de lítio são seguras o suficiente para voos, e se estão sendo usados os métodos de refrigeração adequados nesses protótipos.
A limitação de peso imposta pelo modelo elétrico reforça a necessidade de mudar a regulação aérea, dispensar o piloto e tornar os veículos completamente autônomos, segundo os fabricantes.
CONCORRENTES
A Toyota espera ter um veículo a tempo de receber turistas na Olimpíada de Tóquio, em 2020.
Há também o Aeromobil, menos sustentável, para quem tem licença de piloto de avião. Movido a gasolina quando voa e a bateria quando está no chão, vai precisar de uma pista de 15m para decolar e deve custar mais de 1 milhão de euros.
Já o Lilium Jet, avião alemão completamente elétrico, terá propulsão vertical e horizontal. No projeto, ele decola com rotores de helicóptero e depois, quando já está no ar, passa a se sustentar com asas.
Com autonomia de voo de uma hora, o Lilium afirma que terá bateria o bastante para rodar 300 km, e a ideia é carregar até cinco pessoas. Não é exatamente um "carro voador". Mas caso consiga decolar, pode inspirar a criação de modelos menores — alguns, até, com rodas.

Fonte: Folha de São Paulo. Link: http://folha.com/no1897355

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